Os partidos comprometidos com o fortalecimento da União Europeia conquistaram dois terços dos assentos no Parlamento Europeu, segundo estimativas sobre as eleições do bloco, que se encerraram no domingo (26), após quatro dias de votação. No entanto, os eurocéticos e nacionalistas avançaram, obtendo cerca de 25% das cadeiras - embora menos dos 30% que esperavam eleger.
Os ganhos obtidos dos nacionalistas e populistas de direita, combinados com um bom desempenho dos ecologistas e esquerdistas do Partido Verde, confirmaram o enfraquecimento dos partidos tradicionais da Europa. O presidente francês, Emmanuel Macron, que sempre defendeu que a UE é a resposta para os desafios de uma economia globalizada, sofreu um golpe pessoal ao ver seu movimento centrista, o Em Marcha, ficar atrás do partido anti-imigração de Marine Le Pen, a Reunião Nacional (RN), na França.
No entanto, o partido de Macron contribuiu para os ganhos dos liberais na Europa. Com o bom resultado também dos verdes, os grupos de centro pró-UE perderam 20 cadeiras, mas garantiram 505 de um total de 751, de acordo com projeções da UE. Com 178 eurodeputados, 38 a menos do que e m 2014, o Partido Popular Europeu (PPE), de centro-direita, continua a maior força, mesmo sem ser maioria. Seus tradicionais aliados, os social-democratas, de centro-esquerda, caíram de 185 para 152 representantes.
Juntos, espera-se que os dois grupos caiam de 401 parlamentares para 330 nos próximos cinco anos - para eleger o novo chefe da Comissão Europeia é preciso 376 votos. Com base nesse resultado, sem maioria clara, caberá aos líderes europeus fazer alianças para escolher os próximos presidentes das principais instituições europeias.
O resultado também complica o processo legislativo, com o fim da "grande coalizão" de dois partidos. As forças pró-Europa seguem no controle da Casa com o avanço dos liberais, que passaram de 69 para 108 cadeiras, e dos verdes, que progrediram para 67. Para analistas, essas duas vozes deverão agora ter mais poder.
As urnas também diminuíram as esperanças dos nacionalistas de França e Itália de tentar interromper a integração da UE - os grupos eurocéticos ficaram com 169 deputados no total segundo projeções divulgadas ontem (considerando também os votos do Partido Conservador do Reino Unido).
A Europa das Nações e Liberdades, à qual pertencem os partidos nacionalistas de direita, contará com 58 eurodeputados. O movimento populista, liderado por Nigel Farage e o seu Partido do Brexit, deve conquistar 54 cadeiras. Tensões entre esses dois grupos limitaram o poder de articulação dos eurocéticos.
Os Verdes se solidificam na Alemanha
As eleições não trouxeram resultados animadores para chanceler alemã Angela Merkel - em parte. A coalizão governista da Alemanha CDU-CSU (União Democrata-Cristã e a União Social-Cristã), que compõe o EPP no Parlamento Europeu, foi a mais votada do país, mas seu desempenho foi o pior de todos os tempos em uma eleição de nível nacional - com apenas 28% dos votos, 7 pontos percentuais a menos do que as eleições europeias de 2014.
O tradicional Partido Social-Democrata da Alemanha, que faz parte do Social Democratas na Eurocâmara, também teve um resultado pífio. Com uma queda de 11 pontos percentuais em relação à eleição de 2014, ele obteve apenas 15% dos votos e foi superado pelos Verdes, que tem como foco a sustentabilidade ecológica, econômica e social. Esta coalizão quase dobrou o número de votos em relação a 2014, chegando a 20%, e pode ser considerada a grande vencedora dessas eleições, na Alemanha.
Os nacionalistas de direita do Alternativa para a Alemanha (AfD), que compõe o ENF, se saíram pior do que esperavam e permaneceram atrás dos partidos tradicionais de seu país. Mas os votos recebidos aumentaram de 7,1% nas eleições parlamentares de 2014 para cerca de 11% nessas eleições.
Na França, uma derrota para Macron?
Depende do ponto de vista. De fato, o presidente francês foi derrotado pela rival Marine Le Pen, mas por uma margem muito menor do que a esperada. O Reunião Nacional vai compor o Parlamento Europeu com 22 cadeiras, enquanto a coalizão de partidos liberais de Macron deve alcançar 21.
Um oficial da presidência da França descreveu o resultado como uma "decepção", mas "absolutamente honrosa" em comparação com os resultados anteriores - em 2014 Le Pen havia vencido por 24,8% dos votos, contra 23,5% nas eleições de domingo. Analistas afirmam que este pode ser um sinal de que ela talvez tenha atingido o teto eleitoral, considerando que Macron enfrenta protestos semanais e tem uma aprovação de governo que gira em torno de 27% a 30%.
Vitória de Salvini na Itália
O vice-primeiro-ministro italiano Matteo Salvini liderou os esforços dos nacionalistas de direita na campanha para as eleições do Parlamento Europeu. E em seu país, estes esforços compensaram: a Liga obteve um terço dos votos. O resultado é ainda melhor do que os 31% esperados e deve garantir 28 cadeiras para o partido.
Salvini comemorou nas redes sociais. “Uma palavra: obrigado, Itália", escreveu ele no domingo à noite, postando uma foto de si mesmo com um cartaz com os mesmos dizeres.
O Movimento 5 Estrelas, que forma a coalizão governista com a Liga, teve apenas 17% dos votos e deve garantir 14 assentos na Eurocâmara. O Partido Democrático, de centro-esquerda, ficou em segundo lugar e vai ocupar 18 assentos no parlamento europeu.
Reino Unido continua dividido quanto ao Brexit
O Partido do Brexit, de Nigel Farage, foi o mais votado no Reino Unido, tendo conquistado 29 cadeiras no Parlamento. Os Liberais também tiveram um ótimo resultado, com 16 assentos.
Quem saiu perdendo neste pleito foram os grupos tradicionais: o Partido Trabalhista, que alcançou apenas o terceiro lugar, e os Conservadores, que ficaram em quinto - com apenas 4 cadeiras no parlamento europeu.
Farage disse à Rádio 4 da BBC: "O sistema de dois partidos agora serve apenas para si mesmo. Eu acho que eles são uma obstrução à modernização da política ... e vamos enfrentá-los".
Os resultados também mostram que o Reino Unido continua dividido quanto ao Brexit, com resultados bem próximos entre os eurocéticos e os pró-UE.
Controvérsia na Áustria prejudica partido populista
Na Áustria, o principal partido da direita populista do país perdeu terreno após um escândalo que atingiu o governo há alguns dias.
O Partido da Liberdade, que até uma semana atrás compunha a coalizão governista na Áustria, apareceu em um distante terceiro lugar, bem abaixo do que sugeriam as pesquisas antes da divulgação de um vídeo que mostrava o líder do partido, Heinz-Christian Strache, aparentemente disposto a negociar com os russos.
O partido do primeiro-ministro austríaco, Sebastian Kurz, foi o mais votado nas eleições para a Eurocâmara, mas isso não foi suficiente para impedir sua queda. Nesta segunda-feira, ele foi removido do cargo ao perder um voto de desconfiança.
Participação
As eleições também conturbaram a política nacional em outros lugares. Na Grécia, o primeiro-ministro Alexis Tsipras, de esquerda, pediu eleições antecipadas depois que os resultados mostraram que ele está perdendo o apoio para um rival de centro-direita, o Nova Democracia.
Autoridades europeias celebraram o aumento do comparecimento, de 43%, em 2014, para 51%. Foi a primeira inversão de uma tendência de queda da participação desde a primeira votação no bloco, em 1979. Mais alta em 20 anos, a participação pode conter um pouco o temido "déficit democrático", que tem minado a legitimidade dos legisladores da UE.